segunda-feira, 14 de junho de 2010

LITERATURA BARROCA NO BRASIL

Este blog foi criado para os alunos que estão cursando a primeira série do ensino médio, com intuito em ajudar nas pesquisas, colaborando para um melhor desempenho escolar e cultural.



"Toda forma exige fechamento e fim, e o barroco se define pelo movimento e instabilidade; parece-nos, pois, que ele se encontra ante um dilema: ou negar-se como barroco, para completar-se numa obra, ou resistir à obra para persistir fel a si mesmo"
 
  --J. Rousse

OBJETIVOS DESTE BLOG:


Reconhecer a importância do Barroco brasileiro para a formação da consciência e da literatura nacional.. Identificar, em textos literários do Barroco, marcas discursivas e ideológicas desse estilo de época e seus efeitos de sentido. Relacionar características discursivas e ideológicas de obras barrocas ao contexto histórico de sua produção, circulação e recepção. Reconhecer e caracterizar a contribuição dos principais autores barrocos para a literatura nacional. Estabelecer relações intertextuais entre textos literários barrocos e outras manifestações literárias e culturais de épocas diferentes. Identificar efeitos de sentido da metalinguagem e da intertextualidade em textos literários barrocos. Posicionar-se, como pessoa e como cidadão, frente a valores, ideologias e propostas estéticas representadas em obras literárias barrocas.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

OBRAS ARTÍSTICAS BARROCAS NO BRASIL

As obras barrocas romperam o equilíbrio entre o sentimento e a razão ou entre a arte e a ciência, que os artistas renascentistas procuram realizar de forma muito consciente; na arte barroca predominam as emoções e não o racionalismo da arte renascentista.
É uma época de conflitos espirituais e religiosos. O estilo barroco traduz a tentativa angustiante de conciliar forças antagônicas: bem e mal; Deus e Diabo; céu e terra; pureza e pecado; alegria e tristeza; paganismo e cristianismo;  espírito e matéria.
Suas características gerais são:
 * emocional sobre o racional; seu propósito é impressionar os sentidos do observador, baseando-se no princípio segundo o qual a fé deveria ser atingida através dos sentidos e da emoção  e não apenas pelo raciocínio.
 * busca de efeitos decorativos e visuais, através de curvas, contracurvas, colunas retorcidas;
 * entrelaçamento entre a arquitetura e escultura;
 * violentos contrastes de luz e sombra;
 * pintura com efeitos ilusionistas, dando-nos às vezes a impressão de ver o céu, tal a aparência de profundidade conseguida.

Características da pintura barroca:
 
 * Composição assimétrica, em diagonal - que se revela num estilo grandioso, monumental, retorcido, substituindo a unidade geométrica e o equilíbrio da arte renascentista.
 * Acentuado contraste de claro-escuro (expressão dos sentimentos) - era um recurso que visava a intensificar a sensação de profundidade.
 * Realista, abrangendo todas as camadas sociais.
 * Escolha de cenas no seu momento de maior intensidade dramática.

Características das esculturas: 

Suas características são: o predomío das linhas curvas, dos drapeados das vestes e do uso do dourado; e os gestos e os rostos das personagens revelam emoções violentas e atingem uma dramaticidade desconhecida no Renascimento.

Caracteristísticas das músicas:

A música barroca é toda música ocidental correlacionada com a época cultural homônima na Europa, que vai desde o surgimento da ópera por Claudio Monteverdi no século XVII, até à morte de Johann Sebastian Bach, em 1750.

Trata-se de uma das épocas musicais de maior extensão, fecunda, revolucionária e importante da música ocidental, e provavelmente também a mais influente. As características mais importantes são o uso do baixo contínuo, do contraponto e da harmonia tonal, em oposição aos modos gregorianos até então vigente. Na realidade, trata-se do aproveitamento de dois modos: o modo jônico (modo "maior") e o modo eólio (modo "menor").
Do Período Barroco na música surgiu o desenvolvimento tonal, como os tons dissonantes por dentro das escalas diatônicas como fundação para as modulações dentro de uma mesma peça musical; enquanto em períodos anteriores, usava-se um único modo para uma composição inteira causando um fluir incidentalmente consonante e homogêneo da polifonia. Durante a música barroca, os compositores e intérpretes usaram ornamentação musical mais elaboradas e ao máximo, nunca usada tanto antes ou mais tarde noutros períodos, para elaborar suas idéias; fizeram mudanças indispensáveis na notação musical, e desenvolveram técnicas novas instrumentais, assim como novos instrumentos. A música, no Barroco, expandiu em tamanho, variedade e complexidade de performance instrumental da época, além de também estabelecer inúmeras formas musicais novas, como a ópera. Inúmeros termos e conceitos deste Período ainda são usados até hoje.

Compositores brasileiros:
No Brasil, Antônio José da Silva, o Judeu, escreveu notáveis obras posteriormente musicadas por Antonio Teixeira, com quem trabalhou em óperas como "As variedades de Proteu", quando se

sábado, 5 de junho de 2010

Gregório de Matos


À SUA MULHER ANTES DE CASAR

Discreta, e formosíssima Maria,
Enquanto estamos vendo a qualquer hora
Em tuas faces a rosada Aurora,
Em teus olhos, e boca o Sol, e o dia:

Enquanto com gentil descortesia
O ar, que fresco Adônis te namora,
Te espalha a rica trança voadora,
Quando vem passear-te pela fria:

Goza, goza da flor da mocidade,
Que o tempo trota a toda ligeireza,
E imprime em toda a flor sua pisada.

Oh, não aguardes, que a madura idade
Te converta em flor, essa beleza
Em terra, em cinza, em pó, em sobra, em nada.

Gregório de Matos



     Buscando o Cristo Crucificado um Pecador com Verdadeiro Arrependimento

     A vós correndo vou, braços sagrados,
     Nessa cruz sacrossanta descobertos,
     Que, para receber-me, estais abertos,
     E, por não castigar-me, estais cravados.

     A vós, divinos olhos, eclipsados
     De tanto sangue e lágrimas cobertos,
     Pois, para perdoar-me, estais despertos,
     E, por não condenar-me, estais fechados.

     A vós, pregados pés, por não deixar-me,
     A vós, sangue vertido, para ungir-me,
     A vós, cabeça baixa, pra chamar-me.

     A vós, lado patente, quero unir-me,
     A vós, cravos preciosos, quero atar-me,
     Para ficar unido, atado e firme.

  



Gregório de Mattos



Padre Antônio Vieira, seu mano Bernardo
e o "Boca do Inferno"
Gregório de Mattos e Guerra

Soneto
que Bernardo Vieira mandou  para seu irmão, Padre Antônio Vieira:

Se queres ver do mundo um novo mapa,
oitenta anos atende desta cepa
por onde ramos a cobiça trepa,
e emaranhada faz do tronco lapa.

Morde com dentes por não ter mais papa;
com língua fere, com as mãos decepa;
soldado e povo livra da carepa,
que na tarde e manhã raivoso rapa;

olhos de água, as faces de tulipa;
cada pé de joanete uma garlopa;
com um só corpo de chalupa.

O bofe muito, e muito pouco a tripa,
é a minha musa; porque nela topa
em apa, epa, ipa, opa, upa.

Resposta

do Padre Antônio Vieira, pelos mesmos consoantes:

Vê, Bernardo, da eternidade o mapa
deixa do velho Adão a geral cepa,
pelo lenho da cruz ao Empírio trepa,
começando em Belém da pobre lapa.

Mais que rei pode ser, e mais que papa,
quem de seu coração vícios decepa;
que a grenha de Sansão toda é carepa,
e a guadanha da morte tudo rapa.

A dor da vida se é na cor tulipa,
de seus anos também se faz garlopa,
que os corta, como o mar corta a chalupa.

Não há mister que o ferro corte a tripa,
se na parte vital o fado topa,
em apa, epa, ipa, opa, upa.

Soneto
Por consoantes que me deram forçados
Gregório de Mattos e Guerra, o "Boca do Inferno", entra na conversa:

Neste mundo é mais rico o que mais rapa;
quem mais limpo se faz, tem mais carepa;
com sua língua, ao nobre o vil decepa;
o velhaco maior sempre tem capa.

Mostra o patife da nobreza o mapa;
quem tem mão de agarrar, ligeiro trepa;
quem menos falar pode, mais increpa;
quem dinheiro tiver, pode ser Papa.

A flor baixa se inculca por tulipa;
bengala hoje na mão, ontem garlopa;
mais isento se mostra o que mais chupa;

para a tropa do trapo vão a tripa,
e mais não digo; porque a Musa topa
em apa, em epa, em ipa, em opa, em upa.

Dos escritores que manifestaram tendências barrocas em suas obras destacam-se Gregório de Matos e Padre Antônio Vieira.

Gregório de Matos Guerra
(Salvador-BA, 1633 – Recife-PE, 1696)


Faz doutorado em Direito, em Coimbra, e permanece mais de trinta anos em Portugal. Vem, então, para o Brasil, passando a viver na Bahia.

Gregório de Matos é o autor mais representativo da poesia desse período da nossa história literária. É poeta lírico, satírico e religioso. Em seus poemas manifesta aspirações religiosas, expressa o amor carnal e satiriza a sociedade baiana da época. Com isso, ganha a antipatia de inúmeras pessoas de seu tempo e é obrigado a partir em exílio para Angola.
Sua produção literária pode ser agrupada em três divisões temáticas: 

a) poesia lírica: neste tipo de poema o poeta fala de suas fortes paixões e dos sofrimentos por amor.
Os sonetos de Gregório de Matos são bem elaborados. Por se um bom conhecedor da arte de fazer poesias, expressa seus sentimentos amorosos com grande habilidade e maestria.
b) poesia satírica: nela critica as autoridades da época, as mulheres de costumes indecorosos, os ricos senhores de engenho, os padres e os comerciantes pouco honestos.

Pelas suas sátiras, Gregório de Matos foi apelidado o Boca do Inferno, por sua habilidade em criticar personalidades e costumes de seu tempo.
c) poesia religiosa: o poeta, arrependido, pede perdão de seus pecados; sofre remorso por suas ações apaixonadas e insensatas; há sempre um conflito entre pecado e perdão. 


Padre Antônio Vieira
(Lisboa-Portugal, 1608 – Salvador-BA, 1697 

 

Passou grande parte de sua vida no Brasil. Aos quinze anos entrou para Companhia de Jesus. Escreveu 15 volumes de sermões e inúmeras cartas (mais de 500). Em 1640, notabilizou-se pelo Sermão pelo Bom Sucesso das Armas de Portugal contra as de Holanda, em que o autor coloca Deus como árbitro na luta entre portugueses e holandeses. Nesse sermão, Vieira mostra sua preocupação com os problemas sociais da colônia.
Em 1652, Padre Vieira está em São Luís do Maranhão, onde se ocupa da catequese dos índios. Aí escreve o Sermão de Santo Antônio aos Peixes, no qual ridiculariza, por meio de alegorias e comparações, os vícios dos colonos. Perseguido pelo Tribunal Inquisitorial, por pregar tolerância religiosa e divulgar idéias do Quinto Império do Mundo, é encarcerado e impedido de pregar.
Como orador foi notável; como clássico, primoroso; e como missionário, incomparável. No Brasil, defendeu a liberdade dos nativos e em Portugal, a liberdade dos judeus.
Foi um autêntico mestre da língua: pela firmeza e propriedade do léxico, pela musicalidade que dá aos seu sermões. 
A obra de Vieira divide-se em: 

 
a) profecias: obra de cunho nacionalista, em que acredita nas futuras glórias de Portugal, baseando-se na Bíblia; nessa obra, Vieira afirma sua crença no Sebastianismo. 

 
b) cartas: nelas Vieira defende os judeus convertidos ao cristianismo (cristãos-novos), vítimas de todo o tipo de perseguições através da Inquisição; 

 
c) sermões (cerca de 200): sua obra máxima. Criticando o cultismo, Vieira utiliza-se de raciocínios claros e bem elaborados, abordando vários temas: 
a necessidade de pregar a palavra de Deus para que ela dê bons frutos;
a escravização dos indígenas, devido à ambição dos senhores de engenho;
as invasões holandesas e o desejo de vitória dos portugueses.
Padre Vieira, grande clássico nos sermões e nas cartas, foi também gongórico (embora tenha criticado o Gongorismo), por abusar das antíteses, dos trocadilhos, das hipérboles.